O que é Ayahuasca e a minha experiência

12/17/2017

Consumida por diferentes culturas, porém fortemente voltada para as raizes indígenas a Ayahuasca, também conhecida por Santo Daime, Sagrada bebida, Iagê e Vegetal se trata de uma bebida enteógena feita a partir da junção de duas plantas nativas da Amazônia, o cipó Mariri e as folhas da Chacrona. Está bebida tem como finalidade elevar o estado de espirito da pessoa a uma experiência transcendente e única.

Se não for levado em conta seu uso sacramental, os efeitos do chá de Ayahuasca são  considerados alucinógenos, prefiro usar o termo enteógeno por respeito ao significado do seu uso. Enteógeno significa contato com o divino, e diferente do alucinógeno não se perde a noção de realidade. Pesquisas realizadas com a Ayahuasca comprovaram que seu uso não causa dependência, porém há ainda muito a se estudar sobre o que o chá pode proporcionar ao ser humano. Digo isso pela experiência que tive com a sagrada bebida.  


A Ayahuasca é legalizada somente para rituais religiosos. Foi num ritual humanista no dia 12 de Maio de 2017 minha primeira experiência com o chá. Conheci a Ayahuasca alguns meses antes de tomar,  e ao passar dos dias fui pesquisando sobre os possíveis efeitos, li diversos relatos, procurei sua origem etc. 

Quando você recebe o convite algumas coisas são exigidas, como roupas confortáveis, de preferência brancas ou claras, e mulheres de saia. Pedem para trazer algo para colaborar com o lanche, que acontece no final.

No início a minha vontade era apenas ir pra conhecer o ritual, não fui decidida a tomar. Várias coisas me travavam, uma delas era o pensamento de ir contra as ideologias católicas que me foram ensinadas desde criança pela minha família. Então acompanhei meu namorado até o local, fui observando com atenção as pessoas, o ambiente, os cuidados e preparos com os iniciantes. Me encorajei, e com a ideia de aprender e acrescentar na minha vida, ainda mais sendo estudante de jornalismo, quebrei pré-conceitos e me entreguei. 

Antes do ritual os iniciantes foram a uma roda de conversa para ouvir mais sobre o processo. O direcionador espiritual, conhecido também como padrinho, foi responsável por conduzir essa conversa. Antes de sermos levados a sala de ritual preenchemos um formulário. Respondemos perguntas como quais remédios e drogas ilícitas costumamos usar, processos cirúrgicos realizados,  e problemas de saúde, portanto devem ser respondidas com sinceridade. Se você pretende ter experiência com Ayahuasca é recomendado não ter relações sexuais e uma alimentação leve por pelo menos três dias antes do uso. Acredita-se que com isso, há uma purificação da alma para receber a comunhão. 

Finalmente fomos levados a sala de ritual, com mais ou menos 40 pessoas. Mulheres de um lado e homens do outro se acomodavam, com suas cobertas, travesseiros e colchonetes. Logo antes do inicio, baldinhos com papel higiênico foram colocados em frente a cada um. O balde é para o caso da pessoa sentir vontade de vomitar, o vomito faz parte da limpeza, assim como o choro, vontade de ir ao banheiro ou constantes bocejos. A limpeza, seja como for, faz parte do processo. As pessoas costumam agradecer essa limpeza, pois é a expulsão de energias negativas e pensamentos ruins.

O ambiente é realmente muito acolhedor, confortável e lindo. Havia imagens de diversas religiões e culturas, imagens de Jesus, santos, da virgem Maria, figuras de Buda, rede dos sonhos, imagem do Mestre Irineu, santidades africanas, indígenas, fotos de Chico Xavier, de pessoas respeitadas do espiritismo e tecidos de mandalas. Tudo isso faz parte do ambiente. Ali ninguém fica de fora, até mesmo ateus são bem vindos e muito bem vindos, não importa se você vai apenas por curiosidade ou por intenção espiritual.

O ritual então começou! As mulheres foram as primeiras, fizemos uma fila diante da madrinha e do padrinho. A primeira dose foi dada num copinho plástico de 30ml, logo em seguida oferecem uma fruta (comi um pedaço de maçã), para diminuir o gosto amargo. O chá tem cor marrom de consistência grossa, gosto amadeirado e uma leve acidez no final. 

Em torno de 15 min os efeitos começam. Cientificamente explicando, os efeitos acontecem por conta do DMT, uma substância presente na planta Chacrona. Para se encaminhar ao contato com seu eu interior, com o divino, com o mundo espiritual, ter a experiência transcendente, ter a revelação das faces do ego e as demais experiências, as plantas fazem um trabalho em conjunto. O princípio ativo se encontra na Chacrona, e o cipó age como inibidor de enzimas que o destroem. O corpo humano produz DMT, mas há poucos estudos sobre em qual órgão é produzido. Especula-se que seja em um local no centro do cérebro, conhecido como o terceiro olho ou glândula pineal. Este órgão é responsável pelas alterações perceptivas, que com a Ayahuasca se elevam intensamente. O efeito tem um pico que dura em torno de 3 horas.

Só é permitido sair do ritual ao menos 6 horas após ele ter começado. Deve-se evitar conversar, e emitir sons altos ao vomitar ou chorar. As regras parecem restritivas, mas a forma de meditação do local é pensada para acrescentar uma experiência sutil e agradável, pois os barulhos podem interferir na experiência de outras pessoas. Elas normalmente se levantam, outras dançam, deixando-se levar pela música.

A meditação é guiada através de músicas católicas, evangélicas, espiritas, batuques de rituais indígenas, e sons ambientes. A primeira música foi do Pe. Marcelo Rossi, que trouxe lembranças da minha infância. O direcionamento musical trás sensação de segurança e tranquilidade, uma paz sem igual.

Em depoimentos que li, muitas pessoas indicavam ir buscando alguma coisa, como conhecimento do seu eu interior. Fui me perguntando sobre a origem do universo, a existência de Deus, e outras coisas. 

Sem dúvidas a cura das minhas crises existenciais aconteceu por conta da Ayahuasca. Sou extremamente grata pela experiência que tive, desejo muito que o mundo conheça o poder que esse chá tem, sem o preconceito, apesar de entender o pensamento que os trava. A minha empatia não dobrou, nem triplicou, se multiplicou por milhões. É inexplicável a sensação de ter um olhar humano sobre tudo. O contato que tive com a Maria Eduarda sem o ego foi muito importante. 

O bocejo foi a forma que usei para eliminar os pensamentos ruins, então bocejei muito. Não tive enjoos nem nada do tipo. Ao tocar minha pele, ela parecia morta, me fazendo lembrar que somos apenas carne, além de me fazer lembrar do meu vô, que eu senti perto de mim. Era perceptível a briga do ego, e a surra que ele te dá, fazendo você enxergar as vezes que poderia ter agido de maneira diferente. Mas em seguida vê as vezes em que você é bom, e o quanto vale a pena ser assim. É uma experiência surreal. 

Ao fim, as luzes se acendem, conseguimos olhar melhor para as pessoas, e fomos comer o lanche. Agora podemos comer, nos abraçar, conversar e principalmente agradecer. O acolhimento continua, com as pessoas vindo nos perguntar como foi nossa experiência, nos dizendo gratidão, que por sinal é uma palavra comum e dita com sinceridade do fundo da alma. 

Infelizmente não são todas as pessoas que tem uma experiência agradável, pois algumas se deixam levar por pensamentos ruins. Isso pode também acontecer dependendo do lugar e da procedência das plantas, há lugares que misturam substâncias desconhecidas no chá.  Recomendo pesquisar bastante sobre o local, ter indicações, e garantir que o local tenha CNPJ de instituição religiosa, pois assim estará dentro da lei.

Bom, essa foi a minha experiência. Se você já tomou, ou se tem alguma dúvida, deixe seu comentário! 

Saiba mais acessando: 

Documentário sobre DMT na Netflix - DMT: The Spirit Molecule

Espero que tenham gostado, até a próxima! Beijos da Madu!

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